segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Palavrar

Então,
Nem acredito.
No que?
Nas palavras. 
Estão aqui. 
Será mesmo?
Palavras! 
E de onde vieram?
Onde estavam?
Não sei.  
Só sei que as palavras estão aqui.
Será mesmo?
Palavrar...
Tão bom.
Ai, ai
Que prazer grafar
Ai, ai
Que alegria dar vida às folhas de papel
Ai, ai
Que gostoso o cheiro de tinta de caneta
Ai, ai
Cadernos, blocos, agendas, diários
Palavrar,
É tão bom!
Ai, ai ...
a, é, i, o, u
e o
abecedário inteiro
Bom, muito bom
Palavras por aqui!

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Suassuna, Caetana e Eu

Num dia desses
reencontrei as palavras.
Foi Suassuna,
e a paga de seu
acordo com Caetana.
Naquela noite
longa prosa
voz solta
pronuncias à moda antiga.
Bom sono,
presente para o novo dia.

Nos dias seguintes
Tertuliano e Caboco Capiroba
faziam das suas nos meus pensamentos.
Afinal, há que se considerar
disputar um lugar no puleiro das almas ou
sair por aí a sobrevoar ondas de mar.
Aos poucos quem quis se fazer palavra
foi ela, aquela que reclama às greves dos correios
pois é afeita ao cumprimento de prazos.

Logo tive vontade de ter com Saramago um parleur,
afinal ele deu a Caetana algumas fraquezas:
afeiçoar-se às volições e pulsões humanas...
Decidi.
Vou ler Jangada de Pedra.
Por quê?
Para distraí-la.
Dar-lhe o gosto de experimentar
a vida narrada,
até o absurdo.
Quem sabe ela deixa para lá este negócio
tão milimétrico, certinho e bem marcado
e se afeiçoa a alguns gostos que tenho.
Curiosa,  ela pode querer conhecer mais
das coisas de aqui!


Diálogos entre personagens de Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro e José Saramago.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Sem Palavras Estou

Sem palavras estou.
Recusam-se às folhas de papel.
Recusam-se deitar no torno dos sentidos
Têm preferido ficar soltas
Indo e vindo
Sei não!
Será o que?
Malcriação, talvez.
Palavras são danadas.
Gostam de aprontar das suas.
Ora são mansas, doces....
Vez por outra, hostis, ferinas.
Sei não! Assim,
sem se deixar tocar,
Eu não gosto não.
Será o que?
Solidão, talvez.
Palavras são caprichosas.
Gostam de ser amadas
devidamente pronunciadas.
Talvez
Pressa de ser.
Mas ser o que?
Verbo ou algum fazer.
Para que?
Para que se ocupar com qualquer fazer?
Que desilusão!
Sei não!
Palavras
Todas
deveriam apenas
Palavrar.


quinta-feira, 3 de abril de 2014

Porto Alegre e Salvador, outros da terrinha portuguesa


Instalei a escrivaninha na parede lateral,
Nem janela, nem varanda. Hoje, busco sombra.
É que neste março a maré está grande.
O calor, a luz e tudo o mais está muito.
O pouco também está muito.
Mas a parede é rosa e a escrivaninha azul
é minha desde há muito.

Num dia desses estive em Porto Alegre.
Vi as lojas que tanto gosto.
Ainda se fazem e vendem móveis do jeito
de antes. Pequenas lojas e seus moveleiros expõem as
peças para os passantes. É isto mesmo,
lá, ainda se usam calçadas para tecer a vida.

Tão bom andar pelas ruas e calçadas.
Descobrir a vida indo na ferragem ou
na volta do trabalho para casa.
Bom...
Sempre se pode tentar caminhar
em todo lugar.

Às vezes penso que Porto Alegre é mais
portuguesa do que Salvador.
Tirando a vida em ladeiras,
casicas, fortes, mosteiros e o mar,
somos mais lusitanos que os soteropolitanos.

O gosto pela vida no ir e vir das ruas,
O prazer de estar no entre lugares.
Calçadas, carros, livrarias, confeitarias,
Lojnhas de armarinho, papelarias,
Sombras de árvores, gotas de chuva e sombrinhas.

A vida em Porto Alegre é bem lusitana
tem muito de Pessoa e seus outros.
Talvez seja isto. Salvador e Porto Alegre,
outros da terrinha Portuguesa.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O mar, vinho para uma manhã nova

O mar ainda está na minha janela.
Nestes dias, quase totalmente coberto por folhas.

Depois de muito conhecer esta janela,
num dia descobri: De aqui vê-se o mar!

Foi a prefeitura que passou por aqui.
Cortou os galhos das árvores
e o mar apareceu no horizonte,
diante de mim.
Descoberta inusitada.

Eu gosto de ter a companhia das
folhas de árvores na altura do olhar.
Mas ver o mar ...
O sem fim
a imensidão
é sempre uma experiência nova ...
é completude.

Hoje, aqui da janela, ele se mistura a fina
cortina de chuva com o cinza do céu.
As folhas das árvores?
Deitam o mar em taça.
Vinho para uma manhã nova.