Quer dizer à Calçada.
Um ponto de Salvador próximo ao Porto.
Região que foi próspera nos anos 1990.
Grandes edifícios de empresas públicas,
montepios, bancos, instituições ligadas a justiça,
saúde, fazenda e importante centro comercial com prédios de
escritórios e o Museu do Cacau.
Há também o Trapiche Barnabé, o Mercado do Ouro, o Plano Inclinado
e outros equipamentos de época em que a prosperidade
andava por lá.
Vou pouco ao bairro.
É bem verdade que em meus passeios
antropológicos passo por lá,
ao menos, uma vez ao mês.
Faço uso do Doron, ônibus que passa
no Rio Vermelho e vai até o Cabula.
No entremeio passa pela Calçada.
Acho curioso chamar o bairro por este nome.
Preciso pesquisar o porquê disto.
Eu costumo me referir ao bairro como
cidade baixa, já que ele fica abaixo do Pelourinho
e do Santo Antônio Além do Carmo.
Mas o que isto importa?
Não sei se o que se passa lá interessa,
mas a sensação de andar por ali é de trânsito.
Tudo está em trânsito, espera e deriva.
Tudo ao mesmo tempo.
Filas diante do Ministério do Trabalho.
Sim, eu passei lá, antes das 9h da manhã.
Filas diante de um prédio que tem uma agência bancária no térreo,
com a porta aberta para a calçada. Deve ser por isto o nome.
Os estabelecimentos são abertos para a calçada.
Moradores de rua nos vãos das portadas
dos grandes edifícios, naqueles em que não há grades.
Pessoas desfazem as camas, reúnem seus pertences:
colchão, lençóis e outros panos.
Alguns, ainda, dormem.
Na festa do Bom Fim o bairro é vivo.
Ele é o ponto em que a festa começa.
Lancherias, padarias, quiosques...
Tudo se abre para os passantes em procissão festiva.
Baianas e suas Águas de Cheiro em vasos sobre os torsos.
Políticos e suas comitivas.
Bandas, Fanfarras, Cordões, Blocos
e outras formações coletivas dançam, tocam instrumentos,
desfilam cores em roupas bordadas
com enfeites, brilhos e sons.
Mas neste dia a deriva dava o tom.
Não que viver um pouco sem destino
não seja bom. É muito bom viver um pouco
sem rumo, um pouco vagante.
Feito estar entre ondas do mar. O balanço acomoda
com enfeites, brilhos e sons.
Mas neste dia a deriva dava o tom.
Não que viver um pouco sem destino
não seja bom. É muito bom viver um pouco
sem rumo, um pouco vagante.
Feito estar entre ondas do mar. O balanço acomoda
melhor o que nos pesa.
Mas deriva muita faz delirar.
Faz desesperar.
A turba do Bom Fim sabe o fim a encontrar.
O passante num dia comum sente vontade de chorar.
Onde está alegria do bairro?
Onde estão as pessoas?
Onde estão os corpos vivos, febris, gentis, risonhos?
Para onde foram todos e tudo?
É isto que faz derivar um passante naquele lugar.
Fica-se a buscar, a buscar, a buscar...
os de ontem, os de antes e os de hoje.
É que os que ali estão não se veem, não se tocam.
Ninguém canta, dança ou grita.
Todos seguem em busca de algo: um documento carimbado, o protocolo junto a
repartição, a audiência na justiça, um certificado de tempo de serviço,
uma merenda para matar a fome, uma esmola para começar o dia,
uma vaga para estacionar o carro.
Xi, lá vem o flanelinha.
Não sei como isto se estabelece.
O que? A vida fixar-se numa e só experiência.
Sei apenas que da Calçada tiraram o Canto de um Povo de Um lugar.
Mas deriva muita faz delirar.
Faz desesperar.
A turba do Bom Fim sabe o fim a encontrar.
O passante num dia comum sente vontade de chorar.
Onde está alegria do bairro?
Onde estão as pessoas?
Onde estão os corpos vivos, febris, gentis, risonhos?
Para onde foram todos e tudo?
É isto que faz derivar um passante naquele lugar.
Fica-se a buscar, a buscar, a buscar...
os de ontem, os de antes e os de hoje.
É que os que ali estão não se veem, não se tocam.
Ninguém canta, dança ou grita.
Todos seguem em busca de algo: um documento carimbado, o protocolo junto a
repartição, a audiência na justiça, um certificado de tempo de serviço,
uma merenda para matar a fome, uma esmola para começar o dia,
uma vaga para estacionar o carro.
Xi, lá vem o flanelinha.
Não sei como isto se estabelece.
O que? A vida fixar-se numa e só experiência.
Sei apenas que da Calçada tiraram o Canto de um Povo de Um lugar.
Rô, eu fiquei me lembrando daquela fala do Giacóia sobre o ócio! A despretensão do passeio e deixar a exploração virar um discurso. Eu costuma fazer muito esses passeios a deriva, me deu até saudade!
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