sábado, 1 de junho de 2013

O afiador de facas, Mário Quintana e um vestido de Chitão chique

Ontem  passou por aqui o afiador de facas.
Empurrava
à moda de um carrinho de mão,
a roda de afiar
Será que ele perdeu uma das rodas no tempo de sua existência?
Desde quando existem afiadores de facas?
Não sei.

Estranhei a imagem.
Um afiador de facas que caminha!
Para mim afiadores de facas
pedalam, apitam e afiam as facas.
Tudo e uma mesma coisa.

Voltei ao meu vestido novo.
Passar cuidadosamente a dobra lateral do tecido.
Passar o ziguezague num lado, no outro...
Vincar bem a dobra do tecido para fixar o zipper.
Alfinetar o artefacto. Alinhavá-lo cuidadosamente.
Costurar, só depois de trocar o pé caldador.

Uma amiga me disse que escrevo crônicas ótimas.
Adorei. Sempre quis ser como Clarice de Aprendendo a Viver.
Fazer do viver diário uma arte.
Mas quanto desassossego é preciso para escrever bem?
Não sei.

Pensei em fazer uma crônica destes dias.
Depois esqueci o que iria escrever.
Voltei à máquina de costura.
Quero terminar um vestido.
Estou testando um evasê em chitão, bem florido e colorido.
A tesoura não cortou direito.
Lembrei do afiador de facas.
Quando será que ele vai passar aqui de novo?

Preciso terminar de ler o
Relato de Arthur Gordon Pym de Allan Poe.
Sempre achei que Moby Dick fosse a obra de aventuras no mar.
Descobri que Melville se inspirou em Gordon Pym de Allan Poe.
Pode? Agente nunca sabe nada.
Melhor se conformar.

Adoro Allan Poe.
Conheço mais seus contos fantásticos.
Por sinal, saiu uma edição linda de seus contos pela Tordesilhas:
Contos de Imaginação e Mistério.
Fiquei com uma vontade de comprar...
Mas tenho várias edições diferentes dos contos dele.
Sempre leio de novo.
Tradução diferente pode surpreender.

Também vi Leminsky na Cultura.
A capa está a cara dele.
Melhor, o bigode dele.
Despojado e provocador, como seus poemas.

Tem alguns poetas que a marca é
nos surpreender.
Quando você pensa que os decodificou
eles mudam o rumo, a prosa, a métrica,
o ritmo...mudam.
Um encontro novo a cada obra.
Leminsky é assim.
Ao menos o que eu li dele.
Depois de Gordon Pym já aviso
que não sei de nada.

Se bem que misturo Leminsky com Walt Whitman.
Assim como Fernando Pessoa e Paulo Autran.
É que conheci Whitman através de Leminsky e
ouvi muita poesia de Pessoa na voz de Autran.

Só conheci, por ele mesmo, Mário Quintana.
Mesmo assim, eu achava estranho um senhor bem velho escrever
um livro chamado Sapato Florido.
Como podia ser? Me soava muito estranho à época.
Não que os poetas e suas artes tenham idade.
Mas minha juventude não encontrava entre imagem e som um
ponto de ancoragem.

Quando chegar em casa vou escrever.
Que nada!
Experimentei o vestido. Ficou bom.
Falta colocar uma renda na barra do forro.
Vai ficar chique.
Um vestido de chitão chique.
Vou trabalhar com ele amanhã.
É que estou pensando que hoje é domingo.
Mas hoje é sábado.
Tão bom.

Chitão pega bem o corte.
Imagem e molde se ajustam,
juntam-se como um só.
Acho que, enfim, não estranhei
ideia e imagem.
O vestido parece que segue as linhas do meu corpo.
Meu corpo parece que modela o vestido.

Um comentário:

  1. Oi Rosângela, sou Hélio Ramirez, biólogo e músico. Estou ultimando um CD onde tem uma música e letra, feita por mim, que se chama afiador. O que lhe estou pedindo é usar parte desse teu lindo poema, que fala sobre o afiador no encarte do meu CD. Moro no RS, bem na fronteira, quase Uruguai. Meu e/mail é ramirezbio@hotmail.com. Gracias

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